[segunda-feira, julho 26, 2004]
Teorias sobre o surgimento de Ary Toledo:
Como já tem tempo que eu só posto prosa, aqui vai mais um post infeliz.
A.) Abiogênese: Ary nasceu de um pedaço de pau. Nada mais lógico. Do pau só preservaria a cara, porém, já que continua a "fazer humor".
B.) É uma lágrima da Lua: Isso explicaria muitas coisas. Como seu poder sobre as/os marés/manés.
C.) Filho de um pansexual e um saco de pão: Viriam daí seus bordões, como "Servimos bem para servir sempre" ou "Mas sem choro, viu?". Parece completamente aceitável.
D.) Uma aventura de Sílvio Santos com Nenê Beiçola: Quando Sílvio foi botar as bolinhas, algo saiu errado. Muito errado. Só isso explicaria o apadrinhamento por parte do SBT com o calvo humorista. Ou seria humorista calvo? Ou não seria um humorista?
E.) Teoria do Ary Divino: Ele seria Deus. Criador do Céu e da Terra, no sétimo dia teria dedicado-se a produção desefreada de piadas de péssima qualidade e aperfeiçoamento de imitação de vozes infantis. Pobres dos fiéis, porque a eles não restará nada além de um livrinho de piadas.

"Então o pato disse: 'mas sem as bolas'!"
por Caniço Duvidosamente Pensante às
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1:27 AM.
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[sexta-feira, julho 23, 2004]
Abundância
Em um mundo dominado pelos padrões de beleza, não ter bunda é um problemão. Não não ter bunda, no sentido usual, mas não ter de não ter, mesmo.
Quando o garoto nasceu, o médico não conseguiu fazê-lo chorar, tendo que encher de tapas a cabeça do feto.
Os primeiros anos foram normais, na medida do possível. Sua mãe enfiava almofadas nos fundilhos da calça. Talvez isso desse ao garoto uma certa desproporção, mas só atiçava os instintos pedófilos dos fazendeiros locais, que sonhavam em espetar seus garfos de feno naquelas almofadas. De qualquer forma, anos inocentes se passaram.
Com a adolescência, veio a insegurança. Achava que lhe faltava algo, o que não deixava de ser verdade.
Receoso, nunca mais se abaixou, fosse para colher rabanetes, fosse para apanhar o sabonete.
Um dia, porém, com não devia deixar de ser, foi descoberto. O fazendo Michael viu aquelas formas e não pôde se aguentar. Foi pegar a pá, que a colheita ia ser boa.
Puxou papo com o desbundado. Estava plantando para colher mais duro. Mal o rapagote deu as costas, foi, teoricamente, enrabado. O fazendeiro entrou em choque. Saiu apavorado maldizendo o jovem. Michael exilou-se no estrangeiro, onde ajuda as Crianças Carentes do Peru.
Com toda a vila sabendo de seu terrível segredo, viu-se obrigado a se exilar no mato, com seus amigos bailarinos-clássicos-renegados-pela-sociedade-heterossexual.
Mas logo foi expulso outra vez, já que não tinha fundilhos, fato que o tornou desinteressante perante a comunidade.
Errando por aí, acabou conhecendo Gepreto, conhecido por grandes trabalhos em pau. Pediu que realizasse seu sonho e moldasse em madeira uma poupança.
Gepreto, meio que bêbado, fez, já que não tinha nada melhor para fazer, além de assistir programas dominicais.
Prótese pronta. O encaixe era perfeito. Finalmente! Agora poderia viver entre iguais, ou quase. Radiante, abriu a porta. Saiu, respirou o ar puro. E como era puro, o ar, apesar da indústria de cosméticos que se instalara nas redondezas! Para quem tinha nádegas, tudo era mais colorido!
Encheu os pulmões, imaginando todas as possibilidades, e foi acertado em cheio por uma manada de búfalos. A bunda voou alguns metros e caiu esquecida em algum canto.
Reza a lenda que ainda se pode ouvir a voz do garotinho, gritando por sua bunda, perdida em algum rincão, sendo eternamente comida por cupins.
Inusitado, sim, fora de propósito, jamais.
por
Caniço Duvidosamente Pensante às
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1:36 AM.
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[quarta-feira, julho 21, 2004]
Parábola
Uma parábola linda, sobre um homem que, como cada um de nós, só queria se integrar a uma sociedade repleta de paradigmas. Ou não.
Era um burrinho, desses que só serve pra tirar a inocência de garotos. Estava velho, já havia tido mais de sete donos. O último, o atual, era um homem pesado demais para ele.
O homem queria fazer parte do Bando do Zé Pretinho, o que conferia um certo status
. Depois de implorar horas e horas, dançar a macarena e rir das piadas do líder dos mal-encarados, o homem foi aceito, por pura e honesta pena. Afinal, até ladrões de galinha tem coração. De galinha, e é bom lembrar que são deliciosos. Também eram famosos por um maravilhoso grão-de-bico.
Sua primeira tarefa consistia em escoltar um lobo, uma galinha e um saco de milho para o outro lado do rio. Um bandidão rival, com cara de poucos amigos, o abordou. Cozinhou o lobo, matou a galinha a tiros e ofereceu o milho aos Orixás. Fugiu, apontando para o homem e rindo.
O homem ficou desolado. Resolveu voltar a sua casinha. Já no aconchego de seu lar, foi acordado, de manhã, por um chefe amoroso:
-Que fez da galinha, lobo e milho, seu puto?
-Um bandidão os roubou.
O chefe estava irritadíssimo. Não é todo dia que se tem um lobo, uma galinha e um saco de milho, assim.
Resolveu castigá-lo, mas vendo-o ali, amarrado a um tronco, vestido de Carmem Miranda, tão rico, compadeceu-se e o soltou.
O chefe, na noite do mesmo dia, mandou-o para outra missão. Nessa missão não despontaria o chefe! Iria até a cidade vizinha pedir uma caneca de açúcar.
Acontece que o chefe tinha bom senso, e enviou uns capangas.
Chegou a hora de atravessar um rio, o mesmo da noite anterior. Estava bem mais fundo, decorrência desses fenômenos inexplicáveis que acontecem da noita para o dia.
Os capangas, que já vinham perturbando o nosso herói (o burro ou o homem você decide), começaram a aludir à falta de capacidade do burro de atravessar o rio.
Pois foi aí, nesse instante, que a alma do burro e do homem entraram em sinergia. Iam provar a que vieram ao mundo. Atravessariam o rio e, da outra margem, atirariam fezes nos capangas.
Decididos, rumaram ao destino. Os homens se calaram, olhando.
A pata do burro tocou a água. Estremeceu. Estava fria como um sorvete de manga. Tomou coragem, entrou no rio e foi levado pela correnteza, quebrando a cabeça num pedregulho. O que sobrou do homem foi visto pela última vez em Tijuana, sendo fumado por alguns cucarachas.
Nelson e o burro, necessariamente nesta ordem.
por
Caniço Duvidosamente Pensante às
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1:06 AM.
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[terça-feira, julho 20, 2004]
Ensaio sobre o doce de banana
Estava hoje, pois, divagando sobre a importância dos protozoários no frágil ecossistema que é um doce de banana.
Tão fina estrutura, tão ricamente trabalhada por uma senhora nordestina, que podia ter vários filhos, quem sabe?, ou não ter nenhum, tal como um calango que perdeu os ovos, provavelmente fritos, estirados sobre uma enorme frigideira de terra, na jornada Nordeste-Infinito.
Voltemos ao devaneio, desencadeado por uma curiosidade mórbida sobre o gosto de um empapado doce. Com a valentia de um barbeiro chinês, enfiei a colher e degustei. Um incrível gosto de pinga veio-me à língua, mesmo nunca tendo provado pinga, mas pareceu-me, na hora, que era, de fato, pinga!
Como que embebedado pela banana, cambaleei para trás e me senti pronto para governar um país terceiromundista.
Penso agora, após a aventura, longe das altas emoções, que posso bem ter perdido de cinco à dez anos de vida nessa experiência. Paciência. Infeliz daquele que nunca provou dos seus doces de banana.

"Deixe-me massagear seus rins!"
Vejam, pois, a decadência que promoveu o famigerado. Estou usando gifs! Nãããoooo!
por
Caniço Duvidosamente Pensante às
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1:14 AM.
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[sexta-feira, julho 02, 2004]
O homem trabalhava para uma dessas empresas do grupo
McDonald's, especializada em produzir guardanapos personalizados. Todo dia saía de casa às 4 da manhã e pegava o metrô com uns caras estranhos, que o chamavam de "benzinho". Batia o ponto (sem nenhum sentido ambígüo, por favor) antes de ir para a labuta. Na verdade, ele já estava na labuta quando batia o ponto, mas isso não é importante. Sua função era testar a fajutice dos guardanapos, tal como fazem com os papéis higiênicos, para garantir que ele se rasguem nas horas mais impróprias. Era de importância vital para a empresa, ao menos era o que dizia o homem-guardanapo na entrada do prédio, embora estivesse certo que até uma galinha d'Angola seria mais produtiva do que ele.
Voltava para casa depois da novela das 7, a tempo de ver algum programa esdrúxulo e de muito mau gosto.
Quando esses programas foram cancelados pela Vigilância Sanitária, sua família cresceu consideravelmente, não se sabe como.
Agora não podia mais sustentar a família a níveis aceitáveis socialmente. As crianças pediam por bonequinhos da moda, como
Tom & Jerry - Kama Sutra is Fun!, com membros articulados e caixa de voz, e sua mulher estava de olho na nova esponja de aço, que no comercial dançava e dizia que poderia estar roubando, matando, mas que estava ali, interpretando
Hamlet.
Um dia, enquanto saboreava seu pedaço diário de isopor, engasgou. Ninguém pôde ajudá-lo, embora houvesse um grande pôster ensinando como realizar a
Manobra Heimlich e a dançar o
Can-Can... Talvez porque ninguém soubesse ler...
Moral da História: A nova onda é/é namorar pelado.
por
Caniço Duvidosamente Pensante às
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6:05 PM.
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