21 anos. Exímio ladrão de pedaços de animais.Alguém que se importa.

Uma alma sensí­vel.


18s
Aleatorium
Antimyxo.
Endorphina
Kill your Idols
Kool Thing
Necrometrópole
Reservatório
The Offender


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[quarta-feira, junho 27, 2007]

Das antigas

É famosa pelo centro-oeste do país a lenda de um lobisomem que por muitos anos habitou aquelas terras.
Tudo começou quando, em experiência pioneira, mas nem tanto, um grupo de recém-convertidos hippies fundou, em 1993, uma colônia falanstérica anarco-bagista-ôhmica em Canabrava do Norte, interior do Mato Grosso, na parte traseira da indústria de enlatados do pai de um de seus membros. Durante seu tempo de duração, o projeto foi um sucesso. Entretanto, após dez dias do início de suas atividades, seus integrantes, que passavam os dias em rodas de violão, resolveram se dispersar quando, tomados pelo frenesi das circunstâncias, acreditaram ser piratas e enterraram todo o estoque de entorpecentes. Mais tarde, quando um deles fumou o mapa, esqueceram-se de onde o haviam guardado e, já sóbrios, não agüentavam mais tocar e cantar Tears in Heaven.
Poucas semanas depois, Lutero, o pastor-alemão de um dos vizinhos da indústria, passeava pelo acampamento agora abandonado tanto pelos hippies quanto pelo dono da indústria que, não desejoso de gastar volumosas quantias de dinheiro com esterilização, optou por simplesmente deixar o local como estava. Esfomeado, procurava o que comer, quando encontrou uma bituca de um baseado enrolado em noite de lua cheia e fumado por um violonista versado na arte oculta de Lulu Santos. Engoliu sua descoberta de uma só vez e voltou para casa.
A partir desse dia, dizem, Lutero passou a ter um comportamento desatento em noites de lua cheia e não havia coleira neste mundo que fosse capaz de mantê-lo preso. Nesse período, Lutero se encaminhava para a ex-colônia e lá montava guarda, uivando um sucesso qualquer da Legião Urbana enquanto desenterrava o tesouro dos antigos moradores.
Numa dessas vezes em que se direcionava para o assentamento, Lutero encontrou em seu caminho um homem da região, que voltava para casa de uma mal sucedida pescaria e resolvera cortar caminho por dentro do terreno da indústria. Lutero, tomando-o por boa pessoa, enrolou dois baseados, um para ele e um para o homem, e o serviu. O sujeito, que derrubara seus cigarros de palha por acidente durante o percurso, aceitou o presente sem titubear, imaginando ter aquele simpático animal os encontrado, e logo se pôs a fumar junto com o cachorro, no que achou muita graça.
Depois da terceira tragada do cigarro enrolado por um cachorro que comeu um baseado confeccionado em lua cheia e fumado por um violonista versado em Lulu Santos, começou a sentir-se estranho. Seus pêlos, dentes e unhas começaram a crescer, sentiu sua mandíbula pronunciar-se para a frente, acompanhada pelo nariz e pelos dentes superiores, e sua musculatura modificar-se, rasgando um pouco suas roupas, além de sentir seus olhos um pouco irritados e a cabeça um tanto anuviada. Passado algum tempo, não sentiu mais nada além de sede. Foi procurar um riacho que sabia haver ali perto e, ao recostar-se para beber água, percebeu, ao lado do reflexo da lua cheia, o reflexo de alguma espécie de canino no lugar de seu próprio. O baseado oferecido pelo cachorro havia exercido algum efeito especial, mágico, sobre seu corpo. O pobre homem havia se tornado um lobisomem.
Sentiu vontade de comer brócolis. Vontade curiosa, para um lobisomem. Onde, porém, encontraria brócolis, àquela hora da noite? A vontade era tamanha que considerou apropriado invadir o armazém local para saciar sua fome. Comeu também rúcula e agrião. Satisfeito, retornou para o assentamento, onde confeccionou para Lutero uma touca de lã.
Após esse dia, sempre que sentia fome, invadia o armazém da cidade e de lá retirava o que considerava necessário para sua sobrevivência, mas de forma sustentável.
Dizem o lobismem e Lutero terem vivido o resto de seus dias alimentando-se de forma saudável e livre de carnes e morado em uma tenda armada por eles mesmos no local onde outrora houvera a colônia falanstérica anarco-bagista-ohmica, enquanto ouviam os maiores sucessos de Bob Marley em um velho aparelho de som abandonado pelas redondezas e faziam artesanato com o arame da cerca que circundava o local, tendo morrido ambos, alguns anos depois, por infecção tetânica.


por Caniço Duvidosamente Pensante às
| 11:55 AM.

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